O maior défice do País não é financeiro, nem é democrático, talvez seja neuronal, mas é concerteza de senso comum
O pudor é a última homenagem que o vício presta à virtude (frase atribuída a Abelardo, não verifiquei). Quando o pudor se apaga já nada resta.
Isto vem a propósito da vergonha que constitui o percurso académico (?) do primeiro ministro. Tinha habilitação de engenheiro técnico (antigamente designado agente técnico de engenharia). Para quem defende o choque tecnológico, até constituía um símbolo a favor do ensino técnico-profissional. Só lhe ficava bem e não precisava de mais.
Mas não. Não resistiu ao cabotinismo de querer ser mais do que era e foi buscar uma licenciatura à Universidade Independente como quem vai ao centro comercial comprar um CD. Ainda por cima, trouxe uma cópia pirata.
Depois, foi uma trapalhada para esconder e disfarçar: duas declarações diferentes no Parlamento, com desaparecimento do original; um certificado claramente falso na Câmara da Covilhã; a mentira de uma equivalência obtida sem a prova documental das habilitações a equivaler (com a promessa da demonstração futura); uma licenciatura obtida num domingo de Agosto, quando todas as Universidades estão fechadas; uma licenciatura em engenharia civil que a própria Ordem dos Engenheiros não reconhece; quatro cadeiras dadas por um mesmo professor que “por acaso” acabou por ser nomeado pelo governo dele para várias funções; uma disciplina de inglês técnico tirada numa folha A4 feita em casa e mandada com um cartão da Secretaria de Estado; a tentativa boçal de intimidar os jornalistas. Etc...
Estou de acordo: este homem tem um problema de carácter.
Porque se sente de tal modo inferiorizado com a habilitação de engenheiro técnico, que não resiste ao impulso compulsivo de improvisar uma licenciatura; e que, depois de descoberto, não tem coragem para enfrentar a verdade e tenta enganar-se a si próprio e a todos os outros.
É grave por defeito de carácter.
Mas é grave também por outra razão: é este "engenheiro" que vai decidir sobre a Ota e o TGV!
Acho que Sócrates não deve demitir-se e deve completar o mandato até ao fim. Portugal precisa que os governos cumpram os mandatos. Não suporta mais instabilidade política. Mas, já agora, com menos arrogância e mais humildade... por favor.
Na próxima eleição será bom que os portugueses elejam alguém com solidez, competência e sobriedade... em vez de uma qualquer “celebrity” com “carisma”.
E repito, a concluir: o pudor é a última homenagem que o vício presta á virtude.